Total de visualizações de página

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

VEM CÁ LUISA

Há uns seis anos atrás, eu estava dirigindo na Ayrton Senna, quando minha irmã me ligou avisando que estava grávida. O quadro era o de sempre: ela apavorada, eu assustada, eles apenas namoravam, qual seria a reação dos nossos pais, já batia o medo da responsabilidade etc.  Desligamos. Alguns segundos depois eu retorno para ela correndo pois esqueci de avisá-la que o filho(a) dela já tinha madrinha. Choramos as duas, é claro. Ela me deu a notícia quando ainda estavam de férias em Angra e me pediu segredo. Quando chegaram aqui no Rio, as duas figuras, que o destino transformava instantaneamente em pais, chegaram a sugerir dar a notícia em forma de pegadinha, pedindo que nossos pais adivinhassem a charada: o que é, o que é, que foram para Angra em dois e voltaram em 3? Ainda teve mais um detalhe cômico, eles deixaram as malas no carro com medo de serem expulsos e pelo menos terem o que vestir na sarjeta. Pobres almas que por um momento esqueceram que já estávamos no século XXI.  Na hora H eu que tive que dar a notícia pois os dois se entreolhavam mudos. Mas o destino não quis e o bebê não foi adiante. Difícil e traumatizante para todo nós, mas vida que segue.

E eu não sabia que não perdia por esperar ...
Mais ou menos um ano depois, vem a notícia da gravidez, agora para valer. Aí foi tudo muito mais tranquilo. Com relação a “madrinhês” deixei minha irmã bem a vontade. Ela podia escolher quem ela quisesse, mas se não fosse eu, eu não falaria mais com ela. Acho que joguei limpo e fui super sincera.
Durante a gravidez fui escrava dela, seguindo o meu lema: “grávidas podem tudo”. Até jejum fiz com ela um dia para um exame de sangue (evento esse que nós duas temos pavor, mas esse assunto dá um outro texto inteiro).
 Até que em julho de 2006 nasce a Luisa. Um pouco prematura, mas super saudável e sabem com quem que ela parecia? Com um ratinho, de pouco mais de 2 Kg e meio. Foi amor a primeira vista, mas junto com o amor vem um kit completo (que a gente não vê nos comerciais de produtos para bebês): novos cuidados, exames, vacinas, cueiros, noites sem dormir, amamentação difícil, cansaço, fraldas, mais noites sem dormir, bico de silicone (Jesus, o que é isso), enfim, uma enxurrada de novidades e dúvidas.
Ela foi crescendo e aos poucos fomos percebendo que era muito bem humorada, gostava de brincar e na hora da bagunça se entregava tanto que acabava com soluços.
Com um 1 ano começou a andar e enfiou o dedo no bolo descobrindo o que era chocolate.
Com 1 ano e 8 meses falava tudo. Aliás, se ela tem um dom, este é o do fala. De frases feitas a palavras difíceis. Tudo escapava da sua boca com naturalidade e na mais tenra idade. Com 1 ano e 11 meses falava inclusive palavrões. Mas ela não tinha culpa. Criança pequena é como papagaio, repete o que ouve. E ela ouvia... Pensando em mudar o foco de sua atenção, a avó resolveu lhe ensinar “o maior palavrão do mundo”: INCONSTITUCIONALÍSSIMAMENTE. E rapidamente ela já estava repetindo. Rendeu até vídeo no youtube e foi a sensação entre o seu fã-clube.
Mais ou menos nessa época sua bisa teve um AVC e depois de duas sessões de fono em casa pegamos Lulu falando sozinha, como se cantarolasse: “ma, me, mi, mo, mu; la, le, li, lo, lu” e por aí ia ela combinando vogais e consoantes ao seu bel prazer.
 Com 2 anos foi ao pediatra, para a visita de rotina, e o mesmo a consultou, sem precisar perguntar nada a mãe. Conversaram abertamente sobre alimentação, brincadeiras, vacinas, machucados etc. Ele garante que foi uma das consultas inesquecíveis de sua vida.
Também com 2 anos entrou na escola. Nossa adaptação foi mega difícil. Digo nossa porque a família também sentiu muito. Ela chorava e às vezes até vomitava pois não queria ficar na escola de jeito nenhum, apesar de se divertir depois que o choro parava e de termos escolhido uma escola maravilhosa, com profissionais idem. Um certo dia ela pediu a mãe um sutiã, com o argumento de que se ganhasse, pararia de chorar. E parou. Problema resolvido.
Um dia no elevador a vizinha elogiou o seu vestido e disse que quando encontrasse um bem bonito, compraria para ela. Ela aceitou imediatamente e completou: “mas por favor compra um sapato também, eu calço 23”. Número esse exato dos seus pés, que nem a mãe, já roxa de vergonha, sabia de cor.
Com 2 anos e pouco desenvolveu uma atração incrível por anões. Um dia no shopping chamou uma anã para brincar, variando inclusive o tom de voz.  “Tatibitati” para a anã e voz normal quando elogiava a mesma para sua mãe. Tempos depois, no supermercado depara-se com uma família inteira de anões e um deles chupava chiclete. Na mesma hora ela começa a gritar: “ele é menor que eu e tá chupando chiclete, por que eu não posso?”.
Com quase 3 anos, o Michael Jackson morreu. Vendo a revista Veja pediu a avó que contasse a estória do cantor para ela, como se fosse mais um conto da Carochinha. A avó adaptou-a como pode a sua faixa etária. Dias depois, ela estava no shopping em frente a uma TV que noticiava o falecimento do mesmo. Nisso ela virou-se para um homem que também assistia a matéria e soltou a pérola: “era um negro tão bonito, mas tomou tanto remédio para ficar branco que morreu. Agora já era”. O homem não acreditou no que tinha acabado de ouvir. Depois disso, disse que queria o cantor como tema da sua próxima festa de aniversário, mas pena que ele não poderia comparecer como personagem vivo.


Com 3 anos e 4 meses ela inventou uma palavra e nós a corrigimos. Imediatamente ela retrucou dizendo que se o Monteiro Lobato podia inventar palavras, ela também podia. Ela referia-se a palavra “despilofar”, que quer dizer desmaiar, pirar, que a Emília fala logo após tomar a pílula falante, quando ainda estava aprendendo a falar. Palavra essa que, graças a Lulu, foi incorporada ao vocabulário de muita gente grande do nosso meio. Então fique esperto, se você ouvir por aí alguma conjugação desse verbo, tipo “despilofei”,  já fique sabendo o significado e que a origem não veio do latim.
Um dia, assistindo ao Jornal Nacional, ela vê o presidente Obama falando da nova vacina da gripe suína e solta: “ferrou, vai chegar aqui a vacinação”.
Desconfiamos que tem vocação para as artes cênicas. Diferenciamos claramente o seu choro verdadeiro do artístico, assim como sua entonação de voz quando quer agradar. Ela também  encarna personagens por temporada. E muitas vezes não aceita ser chamada pelo nome próprio. A primeira personagem foi a Emília do Sítio do Pica Pau. Queria por que queria uma fantasia da boneca, mas nós não achávamos. Até que um dia ela se irritou e disse que nós não estávamos procurando direito, que era só digitarmos na internet fan-ta-si-a-da-e-mí-li-a e pagar com o cartão de crédito. Depois veio a Stephanie (de Lazzytown), a Iara (a Mãe d’água, também do Sítio), a Dorothy (do Mágico de Oz) e a Violeta (dos Incríveis). Isso sem falar na paixão pelo ET , por toda a via láctea, planetas e naves espaciais e em seu desejo de ir para Marte, que é onde ela acha que o ET mora. Noutro dia mesmo deixou uma carta na caixa do correio da casa da avó para o ET, achando que o mesmo pararia sua a nave e a pegaria.

Hoje Lulu tem 4 anos e nosso relacionamento é um misto de amizade, admiração, muito amor, muito diálogo (e como ela dialoga, sua curiosidade é infindável ...), muito trabalho e  muito grude. Costumo brincar que meu corpo se divide em cabeça, tronco, membros e afilhada.
Uma das últimas dela foi agora nas eleições presidenciais quando me perguntou se eu iria votar no Serra ou na Dilma. Digo que no Serra e ela conclui: “ah, só por que ele disse que vai aumentar o salário mínimo, né?”.
Dizem por aí que não existe amor maior do que o de mãe. Mas não aceito que digam que o amor de madrinha é uma versão genérica desse amor. Não porque tem médicos que dizem que genérico não é a mesma coisa.  Mas não estou falando de madrinha que só vê no aniversário ou que acha que a obrigação é só dar presentes nas datas certas. Estou falando de quem bota a mão no hipoglós, se suja de canetinha, de gouache e depois de crescidinha divide maquiagens, shampoos,  hidratantes e perfumes. Garanto que é um amor gigante e muitas vezes cantado em verso e prosa. A gente é que não sabe que o autor fez a canção para o afilhado, como aquela que diz “avião sem asa, fogueira sem brasa, sou eu, assim sem você , futebol sem bola, Piu Piu sem Frajola, sou eu assim sem você ...”
Mais do que amor nós temos uma parceria de vida, uma cumplicidade construída num dia a dia onde, contando assim parece tudo engraçado, mas nem tudo são flores. Educar é foda, com o perdão da palavra (que ela não me ouça e nem me repita).
Dizem que faço muito por ela. Mas não chega nem aos pés do que ela faz por mim. A presença dela ameniza qualquer problema, cura qualquer tristeza, me dá ânimo para continuar, para me esforçar, para ser uma pessoa melhor, para dar o exemplo. Enfim, ela é uma injeção de alegria sem o desconforto da agulha. E posso tomar todo dia que não faz mal. Mas que vicia, vicia.

Acho que é isso. Falei. Estou mais leve.
PS: Madrinha coruja eu? De forma alguma, mera impressão sua.


Janeiro / 2011

11 comentários:

  1. Amiga, Muito boa!!! Bacana d+!!!Me acabei de rir, uma mistura de comédia(com as aventuras de Lulu) e Amor(toda sua dedicação por ela). Muito Lindo!!!Continue escrevendo sempre!!!QUERO MAIS!!!RSRSRS...BJAO.

    ResponderExcluir
  2. Que bom que vcs curtiram. Mas o mérito não é meu, só escrevi. A estrela mesmo é a Lulu. Bjs

    ResponderExcluir
  3. Nossa depois da minha Santa inteligência rs,eu conseguiiiiiiiiiiiiiii!
    A Lulu é fantástica,dou mtas risadas com ela!É notório o seu carinho e dedicação por ela!Continue postando!Amei bjs

    ResponderExcluir
  4. Amiga querida!
    Eu amei!
    Já ri muito com as histórias da Lulu!kkk
    Concordo com vc:
    AMOR DE MADRINHA NÃO É GENÉRICOOOOO!!!!!!
    bj bj

    ResponderExcluir
  5. Amei amiga! Já pode escrever um livro, hein? Vou pedir permissão para o Tião para ser sua agente rsss. Eu e Bruno nos acabamos de tanto rir!!! Continue postando, pois vou ler sempre! bjsss

    ResponderExcluir
  6. Cabem algumas correções nos fatos, mas deixa a escritora trabalhar com ficção misturada aos fatos reais.

    ResponderExcluir
  7. Coisa mais linda!!!
    Amei,fico imaginando a Luisa adolescente lendo esse amor todo! Vou passar por aqui semanalmente... Amo!!! Bjs!!!

    ResponderExcluir
  8. Coloca o video dela falando... eu vi na epoca o Chahim me mandou.. muito bom

    ResponderExcluir
  9. pode ter certeza q ela deu uma injeção dessa no meu coração...como eu amo essa Luisa..

    ResponderExcluir