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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

DESDE JÁ AGRADEÇO.


Não, a culpa não é da sua mãe, como diria a psicanálise. Tenho certeza que ela te ensinou, assim como a minha, a gente é que às vezes parece que não aprendeu.
Curioso sobre o que estou falando? De gentileza. Da arte de ser grato e educado com pessoas, ações, gestos, com a natureza e até com a própria vida.
Quantas vezes nós já vimos pais dedicados ensinando aos filhos a dizer obrigado, por favor, com licença. São as chamadas “palavrinhas mágicas”. Mas que talvez, por serem mágicas, quase desapareçam quando carimbamos o passaporte para o mundo adulto. E isso acontece em todas as esferas da sociedade, em maior ou menor grau. É triste reconhecer, mas somos um país de mal educados, de furadores de fila, de garotões que não levantam para a senhora de idade sentar no ônibus e de espertinhos que só querem levar vantagem em tudo.
Toda semana quando eu vou ao mercado faço um teste. Sempre que chego ao caixa dou bom dia, boa tarde ou boa noite. Simples e banal. E a taxa de resposta a essa minha pesquisa informal é de menos de 10%. Às vezes acho que podem não ter escutado e falo de novo. E nada. Juro que já cheguei até a pensar em surdez da caixa, já que esse mercado contrata funcionários deficientes. Mas não é falta de audição. É de educação mesmo.
Fora isso é fácil lembrar um monte de situações que, na correria do dia a dia, nem as percebemos como estranhas e erradas. As fechadas no trânsito com direito a xingamentos. A pessoa que ligou para sua casa por engano e você todo educado tenta explicar que ela está com o número errado, mas em meio a isso ela bate com o telefone na sua cara. O cliente que entra na loja de roupas, experimenta mil coisas, não compra nada e sai sem dizer obrigado. E por aí vai.
Há tempos, que quando não tenho nada para fazer e me perco em pensamentos, às vezes imagino se um dia eu me atravesse a escrever um livro, qual seria o título. E o mais cotado entre meus neurônios é “Desde já agradeço”. Para mim é o título perfeito. Eu, que só sei escrever na primeira pessoa, acabo sendo monotemática e falando de mim. Azar de quem lê. E como falar de mim sem agradecer por tudo que vivi, tudo que li e aprendi, tudo que deu certo, tudo que deu errado, por minha família, por meus pais terem atendido meu pedido e me dado uma irmã, pelos meus afilhados e meus amigos insubstituíveis? Com tanta coisa boa é impossível não agradecer. Mas tem gente que não agradece ao garçom, que não segura a porta do elevador para você que está chegando, que está sempre emburrada, resmunguenta, se fazendo de vítima e pobre coitada. Só tenho pena. Tanto da pessoa, como  de sua úlcera nervosa. Devem estar ambas corroídas.
Já eu tento seguir outro caminho. Não que não me aborreça, não me estresse ou não tenha problemas. E como tenho... Mas procuro ver graça na desgraça, transformar tragédia em comédia, agradecer sempre pelo que conquisto e pelo que tenho. E principalmente me auto-zoar. Isso é fundamental. Rir de mim mesma é muito divertido. Acredite e experimente. Na maioria das vezes eu consigo. Outras me dou mal. Mas que graça teria a vida se todos os dias fossem de festa? Se tudo desse certo sempre. Uma monotonia só, arghhh.
É, você pode até me chamar de Poliana, iludida, sei lá, mas prefiro continuar assim, acreditando na lei do retorno, no pensamento positivo e que o mundo conspira a meu favor.  Acredito que a gente colhe o que planta e que, como dizia o profeta, gentileza gera gentileza. Nossa, quanta frase feita. Mas chega de teoria e vamos praticar a gentileza? Não custa nada. Não requer prática nem tampouco habilidade. Tenho certeza que vai ser bom para todo mundo.
E para encerrar, no melhor estilo entrevista da Marília Gabriela, uma frase, um pensamento, uma palavra (só não lembro o autor): “Assim como o sol derrete o gelo, a gentileza evapora mal entendidos, desconfianças e hostilidades”.
PS: Ah, já ia me esquecendo, obrigada por me acompanhar até aqui. E também no próximo post. Desde já agradeço.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A Hermenêutica, a Dentadura e o Carnaval


Para quem não sabe voltei a estudar. Acho que quem fica muitos anos longe dos estudos devia voltar igual a criança pequena, com direito a período de adaptação. Mas não. Lá fui eu sem merendeira nova, nem mãe me levando pela mão. Conheci os novos amiguinhos, tios e tias. Tudo ia as mil maravilhas, até que as aulas começaram... Sem dó nem piedade. A primeira durou 5 horas, com conteúdo denso e desconhecido, sem intervalos, nem direito a recreio.
E com elas surgem os primeiros textos para ler e automaticamente me sinto tão inteligente quanto uma anta. Por onde andou meu cérebro nos últimos 15 anos? Vocês que são meus amigos por favor poderiam me ajudar a entender a crítica metodológica nas ciências humanas a partir do modelo moderno do empirismo e do subjetivismo? Ou por que a vida humana é concebida pelo paradigma hermenêutico como um horizonte de possibilidades não decididas? Isso sem falar na epistemologia, no discurso ontológico, no pensamento pós-moderno crítico. Para que facilitar, se o português permite falar difícil? Minha primeira reação foi recorrer ao Google, o pai dos burros pós-modernos. Quando descubro que tudo não passa de filosofia. Filosofia. Logo eu que só tenho, mal e porcamente, a de botequim... E Sócrates para mim sempre foi aquele jogador de cabelos cacheados,  irmão do Raí.
E para não dizer que não falei de números, vocês não imaginam a emoção do meu reencontro com  fórmulas matemáticas, agora especialmente aplicadas a Estatística. Um colírio para os olhos, música para os ouvidos e tonteira para os neurônios.
Mas agora que o curso de nivelamento do mestrado acabou, cruzando todas as informações que aprendi de estatística, filosofia, pesquisa qualitativa e quantitativa, posso afirmar, ou usando a forma mais correta, inferir, com probabilidade de 100% de certeza: “só sei, que nada sei”. Mas vamos em frente pois conhecimento nunca é demais e, como dizem por aí,  não ocupa espaço.
Mas estou com uma dúvida na cabeça: será que foi esse choque inicial com os estudos que  fez meu sorriso ficar meia boca? Acho que não, não desisto assim tão fácil. Sou libriana.
Mas realmente estou com um sorriso meia boca, no sentido literal do termo. Meia boca com aparelho e meia sem. Sim, já tirei metade debaixo e confesso que depois de mais de 600 dias com os dentes escondidos por ferros e braquetes não os reconheço mais como meus. Eles são perfeitos demais. Uma sensação boa, mas muito estranha. Os antigos, estes sim eram meus, meio desalinhados, como meus pensamentos, mas garanto que 100% meus. E eles ainda parecem maiores do que antes. Enfim, parece que botaram uma dentadura, que nunca me imaginei usando, na minha boca. Mas dizem que a sensação maior de diferença está por vir, quando tirar a parte de cima. E que toda mudança para melhor a gente se acostuma rápido, né?. Em breve eu ainda vou rir muito disso. E sem botar a mão na boca para cobrir. Mas uma coisa eu prometo: não gastar meu sorriso novo com quem não merece. Guardarei para você, meu amigo(a), que além de me dar amizade,  ainda perde seu tempo me lendo.
E o Carnaval, hein? Chegando mais uma vez...  Garanto a vocês que não vou me precipitar e me fantasiar de estudante, metendo a cara nos livros. Quero descansar enquanto posso. Pegar o último ar que me resta. Isso fica para quando a ano começar, em meados de março. E nessa época pré-carnavalesca já começam a surgir os convites dos amigos para ir aos blocos. Confesso que adoro samba, se puder vou o ano inteiro, com carinho especial pelos sambinhas de domingo à tarde. E assim como Jorge Bem Jor, além de Flamengo, sou Salgueiro desde criancinha (só fico devendo a Teresa). Mas bloco para mim não dá. Aquela muvucada, sol de 50 graus na cabeça, foliões fazendo xixi por todo lado, geral bêbado e numa alegria que me soa meio falsa, com hora marcada para começar e acabar. Será que é por que eu não bebo, estou ficando velha ou as duas opções anteriores? Mas se você souber de algum bloco com ar condicionado, na sombra, sem empurra-empurra e com ambulantes vendendo chá verde estupidamente gelado, aí sim por favor me fale. Garanto que vou amarradona a procura do Pierrot apaixonado.
Agora voltando ao título do post. O porque da dentadura e do carnaval eu já expliquei. Mas se você está curioso para saber o que é hermenêutica, eu te conto: é a arte de interpretar textos. E se você cogitar interpretar os meus, eu te ajudo e simplifico. Não me levem muito a sério. Só escrevo por pura diversão e brincadeira. Desde a escola era assim, com o caderno de criação. Diversão primeiro para mim. E fico feliz se divertir você também.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

HOJE NÃO


Se me perguntassem qual é a palavra mais feia da língua portuguesa eu não teria dúvidas: enxaqueca. Pela fonética em si e por tudo de ruim que representa para mim.
Nós nos conhecemos quando eu tinha uns 7 a 8 anos e desde essa época temos um relacionamento com altos e baixos, às vezes damos um tempo, mas nunca nos afastamos por completo. É como um amor bandido, ela bate, eu apanho, vai embora quando quer e volta quando dá na telha e eu, mesmo contrariada, acabo cedendo e a aceitando de volta.
A memória mais antiga que tenho dessa dor é num quarto escuro, com a faixa rosa do balé tapando os olhos da claridade.  O processo todo levava um dia inteiro, eu perdia a escola e  minha mãe sempre me dava Soda Limonada para passar o enjoo. Está explicado porque até hoje não consigo sentir nem o cheiro dessa bebida.
E pensar que isso tudo é herança genética ... Poxa, preferia ter herdado joias, imóveis ou uma pele perfeita sem rugas e manchas até os 80 anos.
Aproveitando que estamos aqui só nós dois, vou te confessar uma coisa: nessa época que tanto se fala em preconceito eu me sinto discriminada por essa doença que ninguém leva a sério. Quando eu digo “hoje não” por causa da dor de cabeça,  não te culpo por pensar que estou te enrolando. É o senso comum da sociedade. Dor de cabeça soa mais como desculpa leve do que como verdade. Acho que seria bem mais fácil e aceitável se eu tivesse pressão alta, problema na tireóide ou asma, doenças muito mais “acreditáveis”. Confesso também que partindo desse princípio já cheguei até a dar outra desculpa, essa sim mentirosa, para não ter que revelar mais uma dor de cabeça para minha coleção.  E o “hoje não” é porque realmente com dor não dá para ser feliz. E ela não escolhe hora nem lugar. E nisso a gente perde compromissos de trabalho, noitadas, viagens e todo tipo de oportunidades. Só não perde a cabeça. Essa continua ali, bem presa ao pescoço...  e doendo sem parar.
Por outro lado, sempre tem gente de bom coração querendo ajudar. Claro que muitas vezes sem a menor noção do que esteja falando. E geralmente escolhem a pior hora, quando você está em crise, com a cabeça latejando, nuca enrijecida, sensibilidade a luz e a barulhos, enjoos e sem condição nenhuma de discutir a relação nem com a dor nem com ninguém. Você só pensa numa pílula mágica, num super poder que reverta o quadro em segundos ou até em decapitação. Acho que daria um livro tudo que já me sugeriram e com lombada grossa. A sugestão campeã de todas é procurar um oftalmologista. É vista, pode crer, você precisa é de óculos. Em segundo lugar vem a clássica: será que foi alguma coisa que você comeu? Depois sugerem que você troque de médico (e eu acho o meu o melhor), faça uma ressonância/tomografia (esses exames não diagnosticam nada para enxaqueca), tome Coca-Cola ou café ao início da dor (cafeína é péssimo pois é estimulante), faça auricoloterapia, quiropraxia e acupuntura, tome um banho frio e passe Vick Vaporub na testa.  Já me prescreveram até que eu deitasse a cabeça em algum tipo de piso frio, fizesse inalação com água fervente e procurasse auxílio espiritual. E a pessoa insistiu tanto que sem graça eu disse que iria. Todo respeito a qualquer religião mas o problema aqui é de saúde e não levo a vida contando com milagres.
A grande realidade é que a enxaqueca é uma doença geneticamente transmitida e até hoje não podemos falar em cura total e para sempre. Então por favor tenham paciência comigo nos meus dias de “hoje não”.  Pelo que eu entendo, há estudos que mostram que meu o cérebro que tem enxaqueca é muito mais excitável do que o seu que não tem. E por isso que ele sofre. Isso deve-se provavelmente a deficiência de magnésio nos neurônios e a um desequilíbrio da função dos neurotransmissores. Acho que daí dá para a gente concluir que só um tratamento sério, com um profissional sério e o uso de remédios adequados pode dar algum resultado.
No final do ano passado, quando eu estava curtindo a ressaca de mais uma crise, resolvi procurar o melhor médico que pude e estou me tratando com boas melhoras. Graças a Deus, ao médico, aos remédios e a minha disciplina. Mas não foi nem é fácil. A primeira consulta foi meio chocante. Ele disse que eu estava fazendo tudo errado e por uso excessivo de medicamentos estava “viciada”, o que só causava mais dores por efeito rebote. Fiz então uma desintoxicação, com direito a crises de abstinência do remédio e tive uma leve noção de como um drogado que tenta se curar se sente. Tudo porque só podia usar os remédios para crise 2 vezes na semana. Fora isso, o médico passou algumas recomendações básicas e super fáceis de cumprir. Para beber, por exemplo, deve-se evitar tudo com cafeína. Então imaginem nosso dia a dia sem Coca-Cola, chás verde e preto (minhas bebidas preferidas), mate e café.  Chocolate e vinho também não são recomendados. Já o exercício físico aeróbico, este sim tem que ser no mínimo 4 vezes na semana para produzir endorfina e ajudar no equilíbrio cerebral. Agora a recomendação mais fácil de ser cumprida: não se estressar, pois o stress pode servir como um gatilho que desencadeia a dor. O que fazer então com os problemas diários de trabalho, as fechadas no trânsito, os idiotas que nos cercam, os funcionários de telemarketing que nos ligam sábado de manhã e a fatura do cartão de crédito a ser paga? Mas uma coisa é liberado, pode-se usar a vontade: gelo. Se algum de vocês já tentou botar gelo continuamente na cabeça, cabeça essa bombando de dor, vão me entender como ao ler essa recomendação eu só pensava em atacar alguém com um furador de gelo, estilo Sharon Stone em Instinto Selvagem.
Mas tudo tem um lado bom. Se eu tivesse nascido na Idade Média poderiam ter  aberto minha cabeça, a sangue frio,  para cortar o mau pela raiz tirando os maus espíritos ou o a pedra da loucura, que era como eles diagnosticavam quem tinha essa dor. Ainda bem que as técnicas de hoje são bem mais evoluídas e menos invasivas.
Mas vida que segue. Fé no amanhã. Um dia de cada vez. Hoje eu estou limpa, estou num dia “hoje sim”. Mas ninguém me chamou para sair... então fico por aqui mesmo.






Luisa INCONSTITUCIONALISSIMAMENTE



Atendendo a pedidos, Lulu com 1 ano e 11 meses. Bjs