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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

HOJE NÃO


Se me perguntassem qual é a palavra mais feia da língua portuguesa eu não teria dúvidas: enxaqueca. Pela fonética em si e por tudo de ruim que representa para mim.
Nós nos conhecemos quando eu tinha uns 7 a 8 anos e desde essa época temos um relacionamento com altos e baixos, às vezes damos um tempo, mas nunca nos afastamos por completo. É como um amor bandido, ela bate, eu apanho, vai embora quando quer e volta quando dá na telha e eu, mesmo contrariada, acabo cedendo e a aceitando de volta.
A memória mais antiga que tenho dessa dor é num quarto escuro, com a faixa rosa do balé tapando os olhos da claridade.  O processo todo levava um dia inteiro, eu perdia a escola e  minha mãe sempre me dava Soda Limonada para passar o enjoo. Está explicado porque até hoje não consigo sentir nem o cheiro dessa bebida.
E pensar que isso tudo é herança genética ... Poxa, preferia ter herdado joias, imóveis ou uma pele perfeita sem rugas e manchas até os 80 anos.
Aproveitando que estamos aqui só nós dois, vou te confessar uma coisa: nessa época que tanto se fala em preconceito eu me sinto discriminada por essa doença que ninguém leva a sério. Quando eu digo “hoje não” por causa da dor de cabeça,  não te culpo por pensar que estou te enrolando. É o senso comum da sociedade. Dor de cabeça soa mais como desculpa leve do que como verdade. Acho que seria bem mais fácil e aceitável se eu tivesse pressão alta, problema na tireóide ou asma, doenças muito mais “acreditáveis”. Confesso também que partindo desse princípio já cheguei até a dar outra desculpa, essa sim mentirosa, para não ter que revelar mais uma dor de cabeça para minha coleção.  E o “hoje não” é porque realmente com dor não dá para ser feliz. E ela não escolhe hora nem lugar. E nisso a gente perde compromissos de trabalho, noitadas, viagens e todo tipo de oportunidades. Só não perde a cabeça. Essa continua ali, bem presa ao pescoço...  e doendo sem parar.
Por outro lado, sempre tem gente de bom coração querendo ajudar. Claro que muitas vezes sem a menor noção do que esteja falando. E geralmente escolhem a pior hora, quando você está em crise, com a cabeça latejando, nuca enrijecida, sensibilidade a luz e a barulhos, enjoos e sem condição nenhuma de discutir a relação nem com a dor nem com ninguém. Você só pensa numa pílula mágica, num super poder que reverta o quadro em segundos ou até em decapitação. Acho que daria um livro tudo que já me sugeriram e com lombada grossa. A sugestão campeã de todas é procurar um oftalmologista. É vista, pode crer, você precisa é de óculos. Em segundo lugar vem a clássica: será que foi alguma coisa que você comeu? Depois sugerem que você troque de médico (e eu acho o meu o melhor), faça uma ressonância/tomografia (esses exames não diagnosticam nada para enxaqueca), tome Coca-Cola ou café ao início da dor (cafeína é péssimo pois é estimulante), faça auricoloterapia, quiropraxia e acupuntura, tome um banho frio e passe Vick Vaporub na testa.  Já me prescreveram até que eu deitasse a cabeça em algum tipo de piso frio, fizesse inalação com água fervente e procurasse auxílio espiritual. E a pessoa insistiu tanto que sem graça eu disse que iria. Todo respeito a qualquer religião mas o problema aqui é de saúde e não levo a vida contando com milagres.
A grande realidade é que a enxaqueca é uma doença geneticamente transmitida e até hoje não podemos falar em cura total e para sempre. Então por favor tenham paciência comigo nos meus dias de “hoje não”.  Pelo que eu entendo, há estudos que mostram que meu o cérebro que tem enxaqueca é muito mais excitável do que o seu que não tem. E por isso que ele sofre. Isso deve-se provavelmente a deficiência de magnésio nos neurônios e a um desequilíbrio da função dos neurotransmissores. Acho que daí dá para a gente concluir que só um tratamento sério, com um profissional sério e o uso de remédios adequados pode dar algum resultado.
No final do ano passado, quando eu estava curtindo a ressaca de mais uma crise, resolvi procurar o melhor médico que pude e estou me tratando com boas melhoras. Graças a Deus, ao médico, aos remédios e a minha disciplina. Mas não foi nem é fácil. A primeira consulta foi meio chocante. Ele disse que eu estava fazendo tudo errado e por uso excessivo de medicamentos estava “viciada”, o que só causava mais dores por efeito rebote. Fiz então uma desintoxicação, com direito a crises de abstinência do remédio e tive uma leve noção de como um drogado que tenta se curar se sente. Tudo porque só podia usar os remédios para crise 2 vezes na semana. Fora isso, o médico passou algumas recomendações básicas e super fáceis de cumprir. Para beber, por exemplo, deve-se evitar tudo com cafeína. Então imaginem nosso dia a dia sem Coca-Cola, chás verde e preto (minhas bebidas preferidas), mate e café.  Chocolate e vinho também não são recomendados. Já o exercício físico aeróbico, este sim tem que ser no mínimo 4 vezes na semana para produzir endorfina e ajudar no equilíbrio cerebral. Agora a recomendação mais fácil de ser cumprida: não se estressar, pois o stress pode servir como um gatilho que desencadeia a dor. O que fazer então com os problemas diários de trabalho, as fechadas no trânsito, os idiotas que nos cercam, os funcionários de telemarketing que nos ligam sábado de manhã e a fatura do cartão de crédito a ser paga? Mas uma coisa é liberado, pode-se usar a vontade: gelo. Se algum de vocês já tentou botar gelo continuamente na cabeça, cabeça essa bombando de dor, vão me entender como ao ler essa recomendação eu só pensava em atacar alguém com um furador de gelo, estilo Sharon Stone em Instinto Selvagem.
Mas tudo tem um lado bom. Se eu tivesse nascido na Idade Média poderiam ter  aberto minha cabeça, a sangue frio,  para cortar o mau pela raiz tirando os maus espíritos ou o a pedra da loucura, que era como eles diagnosticavam quem tinha essa dor. Ainda bem que as técnicas de hoje são bem mais evoluídas e menos invasivas.
Mas vida que segue. Fé no amanhã. Um dia de cada vez. Hoje eu estou limpa, estou num dia “hoje sim”. Mas ninguém me chamou para sair... então fico por aqui mesmo.






3 comentários:

  1. Se eu soubesse que vc tava num dia sim, deixava a Luisa ai e ia pra night.

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  2. Dani querendo se aproveitar da sua pessoa!rs
    Daqui uns dias vai levar a Lulu junto com ela para as night's!
    É Roberta dor de cabeça é um saco,tenho sinusite e qndo está atacada sai de baixo!rs

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  3. Dor de cabeça... bleeeeerg!!!
    Bjs, amiga! Como sempre, ótimo post!
    Mari

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